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Fronteiras Interiores 

Coordenadores: Vanderlei Vazelesk (UNIRIO), Maria Verónica Secreto (UFF) e

Júlio Cesar dos Santos (IFMT)

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08/11 - 9:00 - AUDITÓRIO DO PPGI – CCET

Mesa Redonda Fronteiras Interiores

Vanderlei Vazelesk (UNIRIO), Maria Verónica Secreto (UFF) e Júlio César dos Santos (IFMT)

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Sessão 1 – 07/11 – 16:00 - Sala de Defesa do PPGH

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Uma vida oscilante: o caso do réu do Santo Ofício de Goa Jorge Cardozo de Mendonsa

Eduardo Borges de Carvalho Nogueira (UERJ e Colégio Dom Pedro II)

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Jorge Cardozo de Mendonsa, réu do Santo Ofício executado em auto-de-fé na cidade de Goa em finais do século XVI, foi definido preliminarmente por sua sentença da seguinte forma: “cristão velho, solteiro, fronteiro, natural da vila de Barcelos do Arcebispado de Braga” (ARQUIVO NACIONAL TORRE DO TOMBO, 1632, 101). De forma direta a partir de terminologia cara ao tribunal inquisitorial, Mendonsa foi assim apresentado aos que assistiram à sua execução. Oriundo da vila de Barcelos, submetida ao arcebispado bracarense, ele pertencia ao grupo daqueles que descendiam de cristãos sem qualquer “mácula de sangue”. Ou seja, como cristão-velho, não descendia de judeus, mouros ou outros que fossem considerados como portadores de “sangue infecto”. Solteiro, não contraíra matrimônio publicamente; tal categoria no mundo luso-indiano, ao qual pertencera por boa parte de sua vida, o distinguia dos casados, ou seja, daqueles que, por contraírem matrimônio, possuíam direitos de participar da economia formal do Estado da Índia. Portanto, é provável que ao réu coubessem as atividades militares, como ocorria a muitos dos solteiros sob o jugo lusitano na Ásia. Um termo chama a atenção por não ser comum em muitas das sentenças deste tribunal: fronteiro. Segundo Bluteau, tal termo caberia a diferentes tipos de agentes militares situados em fronteiras: serviria tanto ao capitão das tropas fronteiriças quanto aos soldados dos presídios localizados nestas regiões do império português (BLUTEAU, 1789, TOMO 1, 639), sendo os presídios, segundo o mesmo dicionário, a “guarnição de uma praça” (BLUTEAU, 1789, TOMO 2, 239). Logo, além de reforçar-se a possibilidade de que Mendonsa teria atuado como soldado a serviço da Coroa, ele seria parte dos corpos de soldados localizados em zonas de fronteira do império português. Sem ser determinado com que idade partira para a Ásia, é mencionado que o primeiro ponto do Estado da Índia em que chegara foi Damão, onde ou serviria como soldado, ou de onde partiria para outras praças ao redor do Índico. No entanto, foi a partir desta fortaleza que Mendonsa deu início a uma trajetória que rompera com sua submissão ao Estado português. Afinal, ainda que originalmente súdito da Coroa, serviu e submeteu-se a diferentes potestades do oeste índico do século XVI: após passar por Damão, dirigiu-se ao reino de Barpocha, servindo ao seu soberano muçulmano; mais tarde, atuou nas fileiras do sultão de Bijapur. É necessário, contudo, frisar um traço desta vivência aparentemente insubmissa à autoridade portuguesa: ainda que tenha servido a soberanos muçulmanos indianos e tenha até mesmo se convertido ao Islã, Mendonsa ao longo de sua vida encarou, inclusive espontaneamente, a Mesa do Santo Ofício. Seja apresentando-se voluntariamente por afirmar-se como arrependido de seus atos, seja por ser conduzido por outros cristãos que o reconheceram em terras fora da jurisdição portuguesa, ele apresentou-se ao tribunal inquisitorial por cerca de quatro vezes. Infelizmente somente a sentença de seu processo encontra-se disponível. Contudo, nela é possível verificar diferentes aspectos da vida de um homem que vivera em intensa condição fronteiriça: provavelmente tendo servido em zonas de contato entre o império luso e outras populações ainda no âmbito mediterrâneo, Mendonsa atuou em fronteiras nas quais o Estado da Índia e outras potestades indianas se tocavam. Fronteiras nas quais ele, astutamente, agiu de maneira pendular, oscilando entre distintas filiações político-religiosas. Logo, seguindo os poucos rastros deixados por esta vida oscilante situada na Índia do século XVI, pretende-se analisar como se davam as relações, neste período, entre o Estado da Índia e seus vizinhos no Decão. Destacam-se nestas relações, por sua vez, os contatos estabelecidos nas zonas fronteiriças entre estas partes, entendendo a fronteira como uma zona de contatos entre distintas realidades que possibilitaram intercâmbios culturais, econômicos e políticos. Intercâmbios em meio aos quais viveram pessoas com identidades complexas a partir de audaciosas estratégias de sobrevivência, como foi o caso de Jorge Cardozo de Mendonsa.

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Um outro Olhar sobre a cidade a partir dos Subúrbios

Rafael Mattoso (UFRJ)

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Por que será que ainda aceitamos tão facilmente uma lógica, senso comum, que teima em nos apresentar os subúrbios como espaços sem beleza, quase sempre sem importância cultural ou histórica? É intrigante perceber como, em pouco mais de um século, os moradores do Rio de Janeiro acostumaram-se a denominar de forma pejorativa parte considerável desta cidade. Tal como afirma Flávio Villaça (1998, p. 372), concordamos que todo espaço urbano constitui-se de um conjunto de localizações que são produzidas através do trabalho humano, onde as classes sociais lutam pelas mudanças, assim como pelo controle da produção neste espaço desigual. Esta proposta de pesquisa tem como objetivo aproximar-se, por meio da História da Cidade e doNas fronteiras do clima: as disputas sobre as secas na Câmara do Império (1826-1846) Urbanismo, destes campos de investigação da vida social e das experiências cotidianas de um grande número de moradores dos arrabaldes da cidade do Rio de Janeiro, nas primeiras décadas do século XX.

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De bonzos a letrados do ocidente: jesuítas na China Continental, nos séculos XVI e XVII

Adriana de Carvalho (UERJ)

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O processo de cristianização, a partir do século XVI, nos faz enveredar no que é considerado como o primeiro esforço de modernidade e globalização (aqui, entendida como o estreitamento das distâncias entre o continente europeu e os demais espaços geográficos). Os estudos sobre o jesuitismo contornam igualmente este ideal de universalidade, já que para além da vocação missionária, havia também um esforço de levar a cabo o projeto político da Igreja de Roma. A Companhia de Jesus foi fundada no período em que a Europa esteve no centro das chamadas reformas religiosas que demandaram a necessidade da Igreja Católica repensar as suas práticas e estratégias de atuação, não só na fronteira do que seria uma discussão unicamente religiosa. Isso implicava, também, em avaliar as escolhas territoriais dos espaços de atuação que seriam estratégicos ao projeto de missionação. Pensar a China, como um destes espaços de atuação dos padres inacianos, nos coloca num campo de análise de regiões periféricas ao ideal de cristianização do Império Ming Chinês. Através da análise das fontes nos parece aparente a intenção dos jesuítas em ter mobilidade regional necessária em direção à uma China Continental. Isso explica as mudanças de residências, não à toa, em direção às cidades setentrionais chinesas, que pudessem aproximar as vivências destes padres aos altos funcionários mandarins da elite imperial, em Pequim. Portanto, analisar os territórios de atuação, desde a entrada, via Macau, por ser um dos estabelecimentos oficiais dos portugueses no Índico, como também mapeando as demais trajetórias de fixação das missões, permite-nos um olhar mais criterioso à compreensão das estratégias de atuação definidas por Alessandro Valignano, responsável pela decisão das estratégias e escolhas das práticas de catequese que seriam implementadas nas missões do Oriente. Em relação às fontes, analisarei ao longo do doutorado, a - Documenta Indica- que é uma compilação epistolar, entre o período 1500-1597, feita por Joseph Wicki (1904-1993), jesuíta e historiador que dedicou sua trajetória aos estudos das missões desta Ordem na Índia, atuou como professor da Universidade Gregoriana de Roma e esteve ligado ao Centro de Estudos Históricos Ultramarinos- Portugal. Responsável por grande parte do que há publicado sobre a missionação no Oriente. Além desta, serão analisadas fontes que possam ampliar o nosso olhar para as demais vivências das gentes que estiveram em solo chinês, não religiosos, como mercadores, viajantes e ex-cativos que descrevem as efervescências das práticas sociais destas partes do Império chinês. Assim, o objetivo para o “Encontro Internacional Fronteiras e Territorialidade” é poder discutir esta temática, a partir da análise entre escolhas territoriais e práticas de missionação que será uma questão norteadora que contornará a pesquisa sobre a atuação dos jesuítas na china entre os séculos XVI e XVII.

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Delimitando Fronteiras, Organizando a Cobrança da Dízima da Alfândega. (Século XVIII)

Valter Lenine Fernandes (IFSul e USP) e Helena Trindade de Sá (Prefeitura do Rio de Janeiro e UNIRIO)

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O século XVIII representa na História do Rio de Janeiro importante ponto de mudança. A nova configuração econômica estabelecida pela descoberta do ouro configurou um importante Porto e rediscutiu as fronteiras da região centro-sul e do comércio entre reino e América. No dizer de Corcino Medeiros dos Santos, a descoberta das Minas e a fundação da Colônia do Sacramento, cuja manutenção iria exigir de Portugal a concentração de recursos nessa direção, inauguraria um novo século e também uma nova fase de prosperidade para o Rio de Janeiro. Na primeira metade do século XVIII o rei dom João V recebeu cartas dos homens de negócio do Rio de Janeiro solicitando a isenção da dízima sobre as fazendas produzidas na América portuguesa. Esses agentes estabeleciam um canal de comunicação com o monarca através da Câmara da cidade que era elemento de unidade e de continuidade entre o reino e seus domínios e órgão fundamental de representação dos interesses e das demandas dos colonos, sendo a responsável por enviar a metrópole suas reivindicações. Nessas correspondências, alegavam que a dízima deveria ser cobrada apenas sobre as fazendas vindas do reino e ilhas no sistema de frotas conforme o estabelecido no contrato da dízima da Alfândega. Tratava-se, porém, de mais que uma reconfiguração de cobrança do imposto sobre as mercadorias que entravam na cidade do Rio de Janeiro. O comércio de produtos realizados na América, até então atrelado a ideia de subsistência, passava a delimitar a fronteira interna e externa. Nesta comunicação, analisa-se as medidas adotadas por homens de negócio e pela Coroa portuguesa, a partir do século XVIII, para delimitar as diferenças das fronteiras de comércio realizado na América, reino e Ilhas.

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Sessão 2 – 08/11 – 10:30 Auditório do PPGI - CCET

 

O Trabalho das Famílias nos Seringais do Amazonas (1946 -1966)

Agda Lima Brito (UERJ)

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Buscamos analisar fontes orais de mulheres e homens que viveram nos seringais, em diferentes regiões no Amazonas, ainda que ao longo da pesquisa façamos uso de outras fontes, entendemos que as fontes orais trazem um peso maior em se tratando de demonstrar como essas famílias dentro deste período entre 1946-1966, atravessaram novas formas de sobrevivência e trabalho no Amazonas, sobretudo as mulheres que são o ponto principal deste trabalho. Estamos tentando dar conta desse período de 1946 onde existe uma preocupação do governo federal com o desenvolvimento da Amazônia, por isso foi criada a SPVEA e seguindo até 1966 onde a SPVEA deixa de existir devido a diversos fatores e ocorre o surgimento da SUDAM que vem atuando até o tempo presente.

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"E a civilização brota em meio à Araucania". Da consolidação da linha do Toltén à refundação de Villarrica

Alessandra Gonzalez de Carvalho Seixlack (UFRJ)

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A última etapa do longo processo de expansionismo territorial do Estado chileno, mais conhecido como “Pacificação da Araucania”, encontra-se amplamente documentada. Valiosos relatos sobre a Campanha de Villarrica foram produzidos por homens que acompanharam de perto a expedição comandada por Gregorio Urrutia ao reduto mapuche na Araucania, em fins do século XIX. Essa comunicação tem como objetivo analisar o conteúdo político e simbólico mobilizado pelos criollos nos relatos da expedição a Villarrica, assim como as transformações que a incorporação da Araucania à jurisdição estatal chilena implicou para os remanescentes da sociedade mapuche.

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O Pampa argentino entre a civilização e a barbárie: espaços de fronteira, deserto e zonas de contato nos oitocentos.

Ana Carollina Gutierrez Pompeu (UFF)

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Durante o século XIX na Argentina, e principalmente após a geração romântica de 1837, pensou-se a dicotomia civilização e barbárie como fórmula explicativa para a realidade local. A dificuldade em construir um Estado Nacional na Argentina, apenas consolidado a partir da segunda metade do século XIX, foi explicado pela presença de elementos de “barbárie” em sua constituição social, o que atrasava o rumo teleológico desse país em direção ao progresso e a utópica “civilização”. Entre esses elementos que aglutinavam a barbárie estavam o “deserto” e seus habitantes: diversas sociedades indígenas que resistiam a imposição criolla desde a colonização espanhola. Entre essa “civilização e a barbárie” estava a fronteira interna, construída como símbolo da presença territorial criolla, apesar de sua fragilidade até a década de 1860. Esse discurso de oposição, colocava a fronteira como a separação entre duas realidades opostas dentro da acepção militar de uma “linha de fronteira” que avançava à medida que levaria a civilização. No entanto, esse discurso binário anulava a realidade complexa dessas zonas de contato multiculturais, espaços de diplomacia, comércio e transculturação, além do aclamado conflito. Esse trabalho tem por objetivo problematizar a questão da fronteira interna no Pampa argentino durante o século XIX, contrapondo seu entendimento como uma “barreira entre dois mundos” com a historiografia mais recente que ressalta a dinâmica de intercâmbios existentes entre as etnias indígenas e a sociedade criolla.

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Nas fronteiras do clima: as disputas sobre as secas na Câmara do Império (1826-1846)

Gabriel Pereira de Oliveira (UFRJ e IFRN)

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Fosse em relação à identidade nacional ou à produção agrícola, fosse quanto a intempéries ou a debates científicos sobre as dinâmicas atmosféricas, o clima foi um tema que esteve na ordem do dia no Brasil ao longo do século XIX. Neste trabalho, analisarei mais especificamente a importância da questão climática para a conformação dos sertões secos de províncias do Norte no território monárquico brasileiro. Com base nos anais da Câmara dos Deputados do Império, investigarei como o fenômeno das secas foi objeto de disputa entre parlamentares das mais diferentes partes do Brasil entre os anos 1826 e 1846, que se referem a duas fortes estiagens no Norte. Em contraposição ao suposto marco de 1877 como o momento em que a aridez teria adquirido maior relevância, as discussões naquelas décadas da primeira metade do século XIX evidenciam como a seca foi um mecanismo importante para negociar uma maior presença do Estado imperial sobretudo em províncias distantes da Corte. Além disso, as estiagens motivaram querelas, com base muitas vezes em preceitos científicos, sobre quais seriam os territórios da seca e mesmo se essa intempérie constituía ou não um desastre merecedor de socorros públicos. Naquele início do Estado imperial brasileiro, muito além de legislar sobre orçamentos e encaminhar obras em razão de interesses puramente políticos, os parlamentares precisaram muitas vezes olhar para os céus e se posicionar nos jogos de poder em função da quantidade de chuvas.

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